Carta a
uma Jovem Poeta
Cariño,
Drummond está
certíssimo (como sempre) quando diz que
"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.”
Tenho me
metamorfoseado, ando por entre as pessoas de cabeça no chão, de olhos no
concreto. Tenho medo de tudo, da multidão, da poluição sonora, dos humanos com
portes físicos que se assemelham ao da pessoa que me fez muito mal. Não quero
mais olhar no rosto delas, olho pros pés porque eles, até então, não causam
medo. Andei pensando, tenho duas saídas:
1.
Vou me Inscrever
em algum programa da NASA que possibilite a minha ida e permanência em Saturno
(é o meu planeta favorito desde a 2ª série, quando conheci o sistema solar).
2.
Viver a cavar túneis
como as toupeiras e andar no subterrâneo para não ter mais medo.
Hoje, eu deveria
estar feliz por ser sexta feira, mas me sinto estranho, tremo de medo dos
outros, não sei o que fazer. Meu peito, ainda cheiro de raiva e tristeza, grita
poesia por ela ser a minha única saída. Talvez essa aqui não seja mais uma
daquelas correspondências cibernéticas que trocamos, mas sim um grito mudo por
entre as palavras. Hoje estou assim: grito mudo, grito falho. Vou parar já te
falei várias bobagens e além de tudo não quero te preocupar. Mas preciso de
todos!
Com amor e várias
outras drogas,
[magno]
p.s. descarta isso tudo, deve ser cansaço da minha
parte.
Um comentário:
Como diria Drummond, que está sempre certo sim:
"Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio."
Lá em Saturno, ou debaixo da terra, a saída vai ser sempre essa: mergulho interno e convívio com a sua poesia, que não te larga. Não foge não.
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