- introdução ao conceito sinestésico da sorte.
Demos as mãos numa sintonia de reciprocidade tão calma e enlevada,
delicada e suave que um abraço se materializa sem precisarmos falar nada. Aí sinto
o coração esquentar. É um troço louco isso de fixar gostos, pensamentos,
dedicatória nos livros, pensar em presentes, ceder beijos, entregar corpo,
sorrir nos ouvidos, trocar sussurros de suores e salivas permanentemente, planejar
sintonias, escrever poemas etc etc etc. eu realizo essas e outras infinitas
particularidades com alguém que, mesmo dizendo que não, a gente reconhece de
longe que nasceu poesia. O reconhecer não acontece na perspectiva de uma
chatíssima defesa de tese, mas sim pelos canais sensoriais e sinestésicos que
temos e faz parte de nossa biologia que poucos conhecem. Sorte minha (sorte
dele?). Sorte existe. Ao menos eu consigo tratar desse assunto com mais
calmaria do que a existência do deus. E quando penso assim, “sorte!”, me vem um
sorriso bom por dentro. A minha vontade é o agora escrito num gerúndio pra
frente e além. Eu não sei medir os espaços por dentro, quando me meto debaixo
dos cobertores, enxergo meus infinitos e então eu penso que sou infinito, como
diz aquele filme bonito que já me afogou num choro (bom). Falar em infinitos é
também lembrar os seus olhos pequenos e profundos, em que mergulho e me perco
sempre ao longo desses vários dias de mãos dadas que já vivenciamos. Às vezes
me questiono “o que eu fiz pra tanto contentamento?” Paro, penso e talvez
cogito a possibilidade da tal “sorte” que expus no começo desta escrita. Eu tenho
sorte de ler e sentir o que vem de você em formato de toques arrepiando a pele,
de olhares que dizem a imensidão de mares, de pés que se encontram e se tocam no
espaço dos dias e das horas, seja diurnamente ou noturnamente. Sorte existe,
nos encontramos. Eu também devo ser poesia de alguma forma e sei que te
encontrei pra versarmos juntos sobre o calor das palavras do corpo. Porque encostar
é febre, laço, trapézio, tirolesa. Paro aqui, nesse ponto final que já passou, não
vou retornar à leitura, talvez tenha escrito baboseiras de uma verdade crua e
você me ache desnecessário, prolixo que sou, ou um daqueles românticos
ridículos mal do século. Não retornarei pois posso apagar todas as palavras,
por receio, medo de vários e vários e vários sei lá o que. A vida é uma complexa loucura mas eu consigo
sorrir, mesmo que pareça doloroso na maior parte do tempo. Eu sinto de longe o bem
que nos fazemos e isso já vale tanto no emaranhado da negatividade que acontece
nas horas e nos outros.
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