roubaram-me a poesia ainda verde, ainda não-vida, ainda em
formação. Abortei, com uma faca apontada pra mim, num banheiro sujo de um
puteiro no centro da cidade. arrancaram de dentro do eu um feto ainda em formatação que
faltava muito pouco pra poder falar e escrever as primeiras vogais, cores e
cheiros do cotidiano. agora devem estar fuçando de qualquer jeito nele –
composto de palavras que só a mim pertencia – sem cuidados, sem as delicadezas necessárias. Infligiram a
lei da natureza-outro que se chama sentir. minhas memórias, ainda sangrando de medo,
perfuram o meu dizer, não me deixando dormir ou pensar na calma do vento por
vir: no ou não atravessar da noite. e mesmo tentando focar no sorriso ainda
tímido e cinza, há defeitos, estou defeituoso.
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