Metaamorfase
Hoje acordei diferente. Estou defeituoso, galhos
brotaram no lugar dos cabelos, meus dentes viraram presas, levemente sinto o
gosto do sangue na boca, o coração comprimido de tanto querer, o estômago de
cabeça pra baixo feito os grandes trapezistas sem medo. A semântica do ar tem
se transformado em silêncio. E o pouco de medo que ainda me resta talvez cresça
por eu não saber o que vai ser de mim e dessa transformação ao longo dos meses
porvir. Vou desligar-me do que ainda nem sei, tirar a poeira do Kafka e voltar
a usá-lo como manual de instruções, dedicar-me a poesia que se contorce - porque
assim vai ser; finalizar os textos com um ETC. grafado num indefinido perigo do dizer.
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