E seguiram a falar por horas. A conversa já atingira quase
1km. Estavam à flor da pele. Assim o eram e seriam, apesar de qualquer mudança no
cotidiano.
- estou lendo Cem
anos de solidão. Numa parte é descrito que choveu durantes quatro anos, onze meses e dois dias.
- “Magia não existe!”, tampouco você é um personagem do
realismo fantástico.
- eu queria te dizer uma coisa desde ontem, mas só agora
tomei coragem. Ele abriu a boca e falou em disparato como mãos digitando uma
carta de sufoco. Eu às vezes odeio ter a certeza do que você se transformou por
consequência do(s) amor(es) outro(s). Mas não te condeno, de amour sei bem, sei
também dos seus riscos e contatos e consequências. Essas são as piores,
dilatam-se no peito. Uns viram monstros outros desistem. Você é um caso raro,
és um monstro que desiste mensalmente. Uma mutação.
Em seguida saiu, foi ao banheiro escovar os dentes. Olhou-se
no espelho, sofria de verdade. Apagou a luz. E começou a chover por inteiro.
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