terça-feira, 10 de abril de 2012

- e tu subessi de Magno?
- não, o que ele tem?
- tá sofrendo de poesia aguda, bichinho. Os médicu disseru que não tem mais jeito não, é só questão de tempo até ele se perder de vez. Tá ali no quarto, vomitando uns monti de coisa com o nome deprosa. Tem uns sons estranhos, assusta todo mundo aqui em casa. Mas ontem à noite foi pior, tinha um bocado de letrinhas miudinha saindo do olho dele. Coitado desse minino, sempre foi tão diferente da gente. Alguma coisa tinha nele.
- eu lamento. Deve ser visão de poeta né? li sobre isso um dia, quando dá na gente não tem mais volta mesmo. Aconteceu com um vizinho meu. Hoje a gente olha pra os olhos dele, de frente, no fundo e só enxerga um vazio enorme com um monte de letra no fundo. É de dá pena!
- mas eu? eu peço a Deus todo dia pra que ele melhore, seja como os outros. O dotor dissi que o caso dele é grave, atingindo um nível de crônica muito profundo. É só se preparar pro pior. Só se alimenta de uns livros amarelados e uma fotografias. O médico disse também pra genti dar cinema em gotinhas de 1 em 1 hora, que ele para de vomitar. Em menos de uma semana ele se perdeu e não soube mais diferenciar realidade da vida, da arte, dais letras.
- ...

Um comentário:

Inevitável, a gente sempre continua disse...

Menino, que coisa linda! Olhos até ficaram marejados de lágrimas.