Creio que beijo é
vontade, desde sempre. E se eu me entrego ao outro pra ser beijado, quero que
ele devolva na mesma moeda, “ou toca ou não toca!”. Mas estávamos em festa e
nelas muitas coisas podem acontecer, Magno, deixa de bobagem, né? Pra fechar o
ciclo do carnaval, preciso desabafar: ser beijado por alguém que julga reparar
algum tipo de erro, ou sei lá o quê, ao te incitar a cometer esse ato, é uma
desgraça que ecoa por dias na cabeça da gente. Pior de tudo, quando esse alguém
é amigo, é próximo de você e dos seus. Naquela segunda feira eu precisei
explodir e vomitar literalmente pequenos pesos que habitavam por dentro. Quase todos
foram embora, mas esse do beijo, ficou. E mesmo após o fim do melhor carnaval
de todos, ele ainda persiste porque, inevitavelmente, pra mim, beijo é
envolvimento mas sem vontade é covardia, esteja você bêbado, cheirado, ou
simplesmente fingindo todos esses estados. Mesmo drogado, sob o efeito de
qualquer substância, seja autêntico, meu amigo! Beijar e depois escutar
certezas do tipo “consegui reparar erros?” é, no mínimo dizer pra ti: ó,
panaca, vou te beijar pra que você não fique se achando um idiota ou é um
beijo, ou melhor, apenas encostar os meus lábios nos teus pra que eu não me
sinta mal. Ah, Magno, mas tu só estás culpando o outro, você não o beijou
também? É, sim, beijei, mas foi antes de eu acreditar que era espontaneidade e
não deslize. Se você me pede um beijo e em seguida fala asneiras tentando
justificar a sua não vontade ao me beijar, ó, eu prefiro que você me dê um soco
no estômago, vou receber de uma forma menos densa. Mas senão, tá aí a
possibilidade de ficar pior que toda a rua com todos aquelas pessoas que saíram
de lá tristes pelo fim do carnaval, sentidos pelas paixões que foram deixadas
juntos aos confetes no chão, ou ainda, o tesão que vai esperar ser desaguado,
quiçá, somente no ano que vem, caso o parceiro x ou y seja encontrado no mar de
gente e seus improváveis encontros e desencontros.
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