Quase desconexão entre as partes mal escritas e desanimadas
O perigo de um sábado à noite está no não dito, não tocado,
desejado e não executado. Está no permitir a cabeça rodar como se estivesse num
filme do Gaspar Noe com todas as suas entorpecências e loucuras perigosas de
cortar a pele, de sangrar, pular dos lugares altos, dar fim a carne. Hoje eu
deveria ter me roubado, me batido, me sequestrado, quem sabe com a mudança da
realidade não monótona do espaço-quarto, haveria um tantinho de emoção. Parei de
ser no começo da manhã e só fui
retrocedendo.
...
Eu estou morrendo pras coisas e nem cheguei a completar 27
anos como alguns dos heróis que morreram com essa idade. A minha pressa pra
vida é de uma urgência grandiosa.
...
Por aqui os meus olhos pesam bem mais que há tempos atrás. A
cada idade nova, o acréscimo de mais 3 a 4kg. As minhas vontades gritam
suplicando acontecimentos, mas sei também que o tempo não anda favorecendo
muito. E que não só depende do meu mergulho: os dias precisam, cronologicamente,
acontecer como sempre foi e nada será mudado pela minha fome que aperta. Então eu
fico aqui, meio parado, nada sonolento e com um pouco de música nos ouvidos, ou
por vezes, roendo as unhas até chegar na carne, sentir o gosto de sangue na
boca e ter a certeza que algo real ainda acontece com gosto de vida. Eu sofro
de uma espécie de maldição dos meus ancestrais ou será que esse peso no peito
(de sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e sempre e
sempre) foi um erro de nascença? “eu não soube nascer, eu nasci errado”. E, por
consequência, sofro de febre nos olhos e amo com força e fúria como se o amor
fosse me salvar de algo, fosse consertar a minha bagunça de dentro, fosse
reparar o erro e o peso de nascer errado. Sou um bicho inflamado.
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