Mesmo com sono eu quis escutar a leitura que ele fazia de
um livro chamado Juntos. Ao lado na cama, ele do esquerdo e eu do direito, entre um “quer dormir? Você está com sono” dele e
um “não, pode continuar a leitura” meu,
varamos vários minutos madrugada a dentro. Em alguma parte da leitura que fazia
(e também me explicava o que estava sendo lido), bocejou e em seguida eu vi
escorrer uma lágrima do canto do seu olho direito. Não era uma lágrima sentimental,
não denotava dor, tristeza, ou até mesmo uma espécie de felicidade que
ultrapassa as paredes dos sorrisos – desembocando no canal lacrimal. Era uma
simples lágrima que escorria por conta do bocejo. Eu a olhei escorrendo em
câmera lenta. E foi uma das imagens mais contemplativas que já vira. A cena durou
micros segundos. Transportou-me a um êxtase interno que me fez sorrir
sorrateiramente e de forma bem contida. Ele não percebeu, o que, talvez, fez daqueles
acontecimentos algo ainda mais primoroso pra mim. A leitura foi finalizada, nos
falamos brevemente – creio até que sorrimos de algumas bobagens –; já com a luz
apagada, enquanto ele estava em silêncio torcendo pela vinda do sono, eu estava
de olhos abertos, sorrindo não sei do quê.
Um comentário:
não parece cena de filme?
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