segunda-feira, 26 de agosto de 2013

- talvez você não vá querer: eu guardo mágoas e cuido delas, cultivando-as. Fico feliz quando extermino-as vendo a tristeza de quem um dia me fez triste. Não sou bom, sou assim.

- eu sei que você é assim, já te vi nos teus olhos. Não sei se isso é bom ou ruim.

- E ainda tem minha carne que lateja, contradizendo o coração[...] Por querer morrer de desejo quando nasce o gozo. Senti um pouco de nojo até me reconhecer, me desvendar foi uma das experiências mais assombrosas e foi ali quando me vi parado, de frente ao espelho: crueza e pelos pubianos. De novo: sou assim, inflamado, viajante dos corpos alheios, espírito doente a quem assusta quando há convívio.

- faz tempo que eu te identifico no dizer porque és tão claro e autêntico pra mim, não há medo de falar o que se é. por que você confia tanto em mim a ponto de mostrar até as suas feridas abertas? Eu não sou bom.

- É!
Sangro em letras. Arranco a casca da ferida. O calor desse sangue permeia nosso laço que perpassa, tantas e tantas e tantas vezes, o meu dizer. Há certezas do que sinto, há certezas do que não falo, há estalos dentro da minha cabeça que me deixam tonto, há, talvez, uma inquietude que não cesse. Eu não cesso. Só penso em sonhos nômades que me ferem. Tenho medo de perder o seu consolo e olhar para a minha carne. Eu sou feito de vontades alheias, elas me permitem vida. Amor foi uma palavra criada pra denominar o meu balbuciar em tom de desejo, de páginas marcadas, de língua tremendo e caminhando sobre os teus poros. Estou desesperado porque te amo sem freios, porque eu só sei amar sem freios: me dou. Agora eu grito dentro do meu quarto sentindo a falta do teu eu encostado na minha pele. Independentemente do que vier a acontecer, só escuta: eu te quero como desejo milimetricamente os versos de Pessoa, inquietos, envenenados, certeiros.

- caia.
- hã?
- cai em mim.


pg.18 em construção, amém.

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