segunda-feira, 10 de junho de 2013


Hoje, saindo do amor e adentrando o ônibus relativamente cheio, sentado na terceira fileira, do lado direito, na cadeira, também, do lado direito, de quem entra, tocando o sol com o cotovelo, eu finalmente terminei (com muito pesar) As Ondas, de Virginia Woolf. Havia iniciado a leitura desse em 2012, por volta de setembro. Desde então, uma gestação milimetricamente ascendente por dentro de mim; pensar no mar e visualizar, poeticamente, qualquer imagem que estivesse ligada a ele, tornou-se uma experiência de pura sinestesia e dores leves e toantes, que fuçaram o meu pensar ao longo desses vastos meses, dias. - Mrs Woolf, esse, sem sombra de dúvidas, é o seu melhor livro. Talvez tenha demorado tanto com você nos braços e na mochila por saber que a distância seria complicada (como já tem sido, desde a tarde, horário em que terminei a leitura). Só você me fez ver o mar com a sua altivez e profundidade em tons verdes, azuis e mistérios como, até então, ninguém havia feito. Nem mesmo Clarice Lispector, a sua colega de nuvem, ou mesmo espaço celestial, ou quiçá, sei lá, infernal, que morreu um pouco depois de ti, a quem também me “perturba” existencial e poeticamente até o talo. Clarice soube do mar, seus mistérios e profundidades, é só perguntar à Lori, Joana, Macabéa, Virginia, Ulisses, enfim. Agora, pondo As Ondas na estante, descanso das densidades contidas nele, dos sustos, verdades e feridas abertas com dedos enfiados, cutucando num gerúndio bem circular! E assim, com a última imagem do mar, despeço-me, indicando, gritando, pedido para que todos, um dia, possa ao menos folheá-lo e sentir. Sentir:

As ondas quebraram na praia.
WOOLF, As Ondas. última página. Ed. Novo século, trad. Lya Luft.2001.



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