sábado, 15 de dezembro de 2012


Diário da noite I

- Por que quase nada de paz, só esse sufoco que queima e escorre por entre a garganta, chegando ao estômago, acionando o maldito vômito, a maldita perda de peso, a vontade que cessa, olhos dilatados? Viver ainda vai me matar! Nuvens cinza acionando o controle, mais vômitos pela sala, corpo pesando-chumbo, sensações carne viva, veneno de água viva, afogado em água rasa, senhor, eu preciso de paz, eu preciso de tantas coisas no imperativo, por mais filho da puta que seja essa classificação verbal, senhor, a minha cabeça tem rodado, ruminando pensamentos inflamados por uma bagunça que tem comandado, e eu aqui, calado, tenho tanto a dizer, a abraçar, a amar ainda. Eu que talvez ainda seja jovem.
Agora é essa ardência no estômago. Já vomitei pedaços do meu coração clandestino, da saudade-inerência, do cansaço de dentro, das vontades que não ouso dizer porque só sei dizer e demonstrar e seguir, e agora, tudo se fode pelas minhas certezas. E como falar das minhas certezas se elas já estavam tão claras e pra frente?
- ei, tem calma, o céu está no mesmo lugar todos os dias, mesmo com nuvens cinza e, tanto você, quanto eu, não podermos marcar o plural em tudo por ‘cinza’ ser um adjetivo derivado de substantivo indicando cor, até nisso há invariação, retardamento de uma gramática prescritiva, feito as drogas que nos passam os médicos, ‘salvadores de vida’, muita invariação.
- ontem eu engoli escarro de poesia, hoje já acordei vomitando. Que consequência do caralho! Daí o escarro doloriu o peito, e o peito continuou breu. O que é isso, as rosas e os socos de Leminski?
- é a vida latência que você precisa esquecer um pouco, tem calma, tem calma, por favor.
- pra que serve a calma? “felicidade serve pra quê?” já dizia Ela, com os seus 23 anos e o seu coração mais selvagem do que o meu, na certa...
- eu ainda insisto na tua calma, insisto em você, nos teus dedos longos e beijos de encaixe, suspiros pós gozo literal, suspiros pós estilhaços de poesia que saem assim, do nada e pro nada vão, insisto em dizer o quanto há importância, há vontades, há querer. Insisto em dizer que não é justo! Digo que vai passar, vai passar sim, vai ser doce, vamos rir bem mais depois, porque você também me ensinou a sorrir ou re-sorrir. Vou deitar com você no pensar, enxergando no escuro você olhando pra mim, como fazes vez e outra. Tem calma, amanhã o céu vai tá azul, no lugar e você me dará razão. Vamos rir, prometo.
-me beija?
-te beijo!

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