quarta-feira, 21 de março de 2012

Analgésico&antitérmico

Vontade de estancar no tempo, congelar as células mortas, correr em disparato, abrir latas de cervejas e cair no sono. Tomar narcóticos e assar a cabeça, fritar os miolos, as memórias, o esquecimento. Deitar na cama, deixar a coluna reta, reler Balés, Só, Drummond me chamando de filho. Apagar as luzes, fones nos ouvidos, group four nos ouvidos, deglutindo a minha surdez presente. Sumir, não deixar pegadas. Ser formado em alucinologia: ciência que estuda o efeito da poesia dentro de gente como a gente. Os alucinados, desvairados, Glaucos da vida, como Kerouac apud uma guria bacana no facebook, 2012. Apagar as luzes, acender, ligar a Tv, abrir o DVD, pôr Tom Ford. Ver a cena inicial com dor, solidão, saudade e violino. Tempo. As Horas. Virginia Woolf gritando com mais uma de suas crises. Eu, com um tourniquet pra estancar a vida, nada fluida, cansada do “lirismo comedido”, Pasárgada, Portugal de Pessoa fingidor filho da puta que não se constitui naquelas tão sofridas quase 600 páginas codinome Campos. Mundo e poesia se misturam e os dois fingem, inexistem, nuvens no céu, gás lacrimogêneo. Química sem resultado, física falha e merecedora das minhas risadas. eu pastiche, eu rococó, eu incólume, exangue, luminescente, eu filho do carbono, amoníaco fora da validade. Eu idiota deitado no escuro, mais fones de ouvido, Over, Radiohead, som do ventilador deixando as minhas retinas secas e vazias. Eu ir-se sem ponto final

Um comentário:

Inevitável, a gente sempre continua disse...

primeira coisa que pensei te lendo, foi que se não houvesse dor e crises e o não-entender e o descobrimento, se essa coisa que a gente sente não se tivesse falado nunca, a gente seria menos triste e solitário? digo porque encontrar gentes por aí com a mesma - ou que chegue perto - exatidão entristece um pouco. se fosse exclusivo, como uma doença rara, poderia haver cura, não o sendo, nos tornamos mais um, na lista de espera.